Paciente feminino, 27 anos, 1,60 m, 62 kg, IMC, 24,1- estrófico, faz uso de insulina :
1) Insulina NPH (u-100 Humana) ou Humulin N – uso contínuo – 04
+ 04 + 04 frascos
Aplicar 28 u (sc) no café, 14 u (sc) no almoço e 16 u (sc) no jantar.
2) Insulina Regular (u-100 Humana) ou Humulin R – uso continuo –
01 + 01 + 01 frascos
Aplicar 06 u (sc) no café, almoço e jantar.
Qual melhor estratégica além das recomendações básicas, e como fazer a contagem de carboidrato.
Olá, Daniela.
Como a paciente utiliza NPH (insulina de ação intermediária) e Regular (insulina de ação rápida), trabalhar com doses fixas sem considerar a quantidade de carboidratos ingerida pode gerar variações glicêmicas importantes. Sugerimos considerar uma conversa com o médico da paciente.
A contagem de carboidratos é uma estratégia nutricional que traz mais flexibilidade alimentar, reduz episódios de hipo e hiperglicemia e melhora o controle glicêmico pós-prandial. É utiliza especialmente em pacientes que fazem a utilização de insulinas com ação rápida, como é o caso de sua paciente, ou ultrarrápidas.
Contagem de carboidratos na prática:
1) Defina a quantidade de carboidrato que será ofertado por dia e em cada refeição no plano alimentar.
– Calcule o VET;
– Defina o % de CHO do valor energético total;
– Distribua as quantidades de carboidratos nas refeições.
Por exemplo:
VET = 2000 Kcal
% de CHO = 45%
Quantidade de CHO /dia = 225g
Quantidade de CHO/ refeição:
Café da manhã: 45g
Colação: 15g
Almoço: 60g
Lanche: 30g
Jantar: 60g
Ceia: 15g
2) Defina o modelo de contagem de CHO que deseja seguir:
> Contagem por lista de substituição:
Para iniciar, pode-se aplicar o método de escolhas/substituições, onde cada porção equivale a 15g de carboidrato. Utilizando listas de substituições, o paciente pode escolher alimentos dentro do mesmo grupo sem alterar a quantidade total de carboidratos ingeridos.
Exemplo de aplicação:
Cada porção = 15 g de CHO.
Ex.: 1 fatia de pão, 200 ml de leite, 1 colher de arroz, 1 fruta média → cada uma dessas opções equivale a 15 g de carboidrato.
O plano alimentar deve distribuir os carboidratos ao longo das refeições do dia, arredondando para múltiplos de 15g. Nesse método, você deve ensinar a paciente a trocar alimentos dentro dos grupos sem alterar a quantidade total de CHO.
> Contagem por grama de carboidrato:
Conforme a paciente ganha prática, pode-se avançar para o método grama a grama, no qual se calcula a quantidade exata de carboidrato da refeição com base em tabelas e rótulos de alimentos, considerando sempre o cálculo: carboidratos totais – 50% da quantidade de fibras (caso ultrapasse a quantidade de 5g por porção).
3) Definir a razão insulina/carboidrato (Bolus alimentar):
Ferramenta utilizada na insulinoterapia para estimar a relação insulina/carboidrato, ou seja, avalia a quantidade de carboidrato ingerido e dose de insulina necessária para sua cobertura.
Regra geral: 1 unidade de insulina cobre 15g de carboidrato .
Esta regra pode ser utilizada como ponto de partida, mas deve-se sempre considerar a individualidade do paciente.
Retornando ao nosso exemplo anterior, digamos que você calculou para o café da manhã a quantidade de 45g de carboidratos. Dessa forma:
Aplicação regra de 3:
1 unidade de insulina – 15g de CHO
X unidades de insulina – 45g de CHO
X = 3 unidades de insulina
E o que isso quer dizer? Para cobrir 45g de carboidrato na refeição de café da manhã serão necessárias 3 unidades de insulina.
4) Calcule o fator de sensibilidade
Utilizado para calcular a quantidade de insulina necessária para corrigir a glicemia. No geral, utilizamos a “regra 1800” para insulina ultrarrápida e a “regra 1500” para insulina regular em razão da quantidade total de insulina por dia.
Aplicação:
1500 / 76 U (total de insulina/dia) = ~ 20mg/dL
E o que isso quer dizer? Cada unidade de insulina regular reduz, em média, 20 mg/dL da glicemia do paciente.
Com essa informação, é possível calcular bolus de correção quando a glicemia estiver acima da meta antes das refeições.
Bolus de correção:
Glicemia atual – meta glicêmica / fator de sensibilidade
OBS: A meta glicêmica é, geralmente, definida pelo médico do paciente.
Por exemplo, se a glicemia pré-jantar estiver em 220 mg/dl, estando 120 mg/dl acima da meta de 100 mg/dl, seriam necessárias 6 unidades de correção, que devem ser somadas à dose referente aos carboidratos do jantar.
É interessante, também, estimular que a paciente faça a medição da glicemia antes e duas horas após as refeições para monitorar a variação da glicemia, assim, proporcionando ajustes mais específicos.
Portanto, a estratégia central é orientar a paciente a organizar sua alimentação a partir da contagem de carboidratos. Isso exige acompanhamento próximo, monitorização frequente e ajustes individualizados, mas garante maior flexibilidade alimentar, segurança no uso da insulina e melhor controle metabólico.
Referências:
- BOHNEN, Débora; SOUTO, Débora; FENNER, Natália; et al. MANUAL DE CONTAGEM DE CARBOIDRATOS PARA PESSOAS COM DIABETES. Sociedade Brasileira de Diabetes, 2023.
- MALERBI, Domingos; DAMIANI, Durval; RASSI, Nelson; et al. Posição de consenso da Sociedade Brasileira de Diabetes: insulinoterapia intensiva e terapêutica com bombas de insulina. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, v. 50, n. 1, p. 125–135, 2006.
- FREITAS, Fernanda da Costa ; MIRANDA, Theciane Gabriela Santiago de; CÔRTES, Vanessa Caroline Guimarães ; et al. CONTAGEM DE CARBOIDRATOS NA DIABETES MELLITUS. In: Promoção de saúde e as doenças crônicas não transmissíveis. Ponta Grossa – PR: Atena, 2023, p. 35–42.