Estou com um caso de paciente com obesidade grau 3, com hipercolesterolemia, uso de antidepressivo, 40 anos. Realiza exercício físico 3-4x na semana e já passou por outras nutricionistas.Refere que segue o plano, porém já fazem 3 meses de acompanhamento e não ocorre perda significativo no peso. O plano alimentar está com deficit de cerca de 800 calorias, com alimentos personalizados de acordo com a rotina do paciente. Ele refere que comete deslizes, mas suspeito que são mais frequentes que os relatados. Quais abordagens comportamentais seria interessante trabalhar em consulta?
Muitas vezes, as estratégias para perda de peso precisam ir além do déficit calórico da dieta. Nesse sentido, as abordagens comportamentais podem ser ótimas técnicas terapêuticas auxiliares para o controle de peso. Algumas opções que podem ser trabalhadas em consulta incluem:
– Atenção plena (mindfulness): consiste em dedicar a atenção total ao momento presente, de forma intencional e sem julgamento, reconhecendo pensamentos, sentimentos ou emoções. Na alimentação, essa prática favorece maior percepção da fome e saciedade, sabor e satisfação, contribuindo para escolhas mais conscientes. Para aplicá-la, oriente o paciente a evitar distrações como celular e TV durante as refeições e a comer de forma mais lenta e atenta ao aroma, textura e mastigação.
– Automonitoramento: é uma técnica realizada pelo próprio paciente, na qual ele registra a ingestão alimentar, pensamentos, sentimentos e nível de fome associados a cada refeição, bem como o horário e o local onde é realizada. É uma estratégia que permite compreender os gatilhos emocionais, ambientais e sociais que podem estimular as saídas da dieta, permitindo que o nutricionista consiga mensurar com mais precisão esses deslizes. Para isso, incentive a utilização da ferramenta de diário alimentar, para uma melhor investigação e controle do que está sendo ingerido.
– Controle de estímulos: o objetivo dessa estratégia é diminuir os estímulos que podem levar aos deslizes da dieta. Por exemplo:
- Excluir alimentos não saudáveis da lista de compras, assim, evitando tê-los em casa;
- Estimular o aumento do gasto calórico por meio de atividades do dia a dia, como evitar usar o carro para trajetos curtos;
- Evitar atividades relacionadas à ingestão excessiva de calorias.
– Entrevista motivacional: é uma abordagem centrada no paciente que busca despertar sua motivação intrínseca para mudança de comportamento. Com base na empatia, colaboração e autonomia, o nutricionista atua como facilitador, ajudando o paciente a refletir sobre sua realidade, identificar barreiras e desenvolver suas próprias soluções. Utiliza estratégias como escuta reflexiva, perguntas abertas e tomada de decisão compartilhada, promovendo mudanças sustentáveis e maior adesão às orientações nutricionais.
– Reestruturação cognitiva: consiste em investigar e desmistificar crenças limitantes do paciente, como:
- O pensamento de fracasso quando escapa da dieta;
- Considerar preparações ou alimentos como proibidos ou permitidos, e ao consumir os considerados “proibidos” sentir culpa e deixar de lado o restante do planejamento do dia;
- Associações disfuncionais, como um passeio no shopping significar sair da dieta.
– Suporte social: investigue se o paciente conta com suporte de familiares e amigos no processo de mudança de comportamento. Além disso, incentive a participação em grupos com objetivos semelhantes, como promoção da saúde, prática de exercício físico ou reeducação alimentar.
Referência:
Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Diretrizes brasileiras de obesidade 2016. 4.ed. São Paulo, SP.